Pessoas
Bem-estar dos colaboradores: da preocupação à implementação da mudança
Segundo o estudo Global Wellbeing Survey 2021, Portugal é um dos países
onde as empresas mais aplicam estratégias de bem-estar.
Uma das principais forças das empresas reside nos seus colaboradores, pelo
que o seu bem-estar representa uma preocupação e, consequentemente, leva à
implementação de estratégias de melhoria. As organizações portuguesas
estão entre as que mais adotam estas medidas, a par do Brasil e da Índia,
segundo o Global Wellbeing Survey da Aon, desenvolvido em parceria com a
IPSOS.
Entre os 41 países analisados, as empresas nacionais estão em destaque, já
que 64% aplica estratégias relacionadas com o bem-estar. Além disso,
também na região EMEA estão em evidência, uma vez que estão entre as
organizações onde é mais provável adotar este tipo de medidas (26%),
colocando Portugal à frente de países como a África do Sul, a Irlanda e a
Polónia (24%).
Com base na análise da Aon, há quatro linhas estruturantes em evidência: a
performance em termos de bem-estar tem resultados na
performance da empresa; fatores como o burnout, a
ansiedade e o
stress
influenciam os resultados; a estratégia de bem-estar não é uma amálgama de
programas, mas antes uma ação consistente com foco nas pessoas e na
performance ; e o futuro do mundo trabalho deverá integrar modelos
de trabalho mais flexíveis e resiliência organizacional.
Relativamente aos dados recolhidos, 42% dos colaboradores experienciou um
declínio na sua saúde mental desde que a pandemia começou: 28% dizem ter
dificuldade em concentrar-se no trabalho, 20% demoram mais tempo a
executar tarefas e 15% têm mais dificuldades na resolução e decisão em
tarefas.
Uma estratégia direcionada para os principais problemas associados ao
bem-estar dos colaboradores deve, portanto, ser uma aposta continuada e
sólida, e não uma preocupação meramente pontual, com atividades muito
espaçadas no tempo. A ação tem de ser alargada, informada e estruturada à
medida das necessidades específicas dos colaboradores e das empresas.
Aposta no bem-estar é hoje uma realidade em Portugal
Há um antes e um depois da pandemia de Covid-19. O relatório
nearshore Portugal: Tendências na Gestão de Talento da Aon, em
conjunto com a APDC e a Experis, aponta para uma preocupação efetiva das
empresas portuguesas nearshore em relação ao bem-estar dos seus
colaboradores. Comparativamente a 2020, há mais 20% de organizações a
disponibilizar planos de benefícios flexíveis – total de 43% – e mais 5%
com planos de pensões – total de 37%. O relatório contou com a
participação de 41 empresas.
No que diz respeito aos benefícios, em particular pensões, a HR Solutions
Senior Consultant da Aon Portugal, Joana Brito, acredita que ainda não há
uma ação muito expressiva, mas “deveriam ser prioritários face à
sobrecarga que o sistema social nacional poderá vir a sentir com o impacto
económico da Covid-19”. Não obstante, realça que há empresas que têm
previstas alterações, ainda por implementar, nos benefícios flexíveis
(31%), planos de pensões (17%) e seguros de vida (11%).
Estratégias que compensam
O relatório Global Wellbeing Survey aponta para a relação estreita entre o
bem-estar dos colaboradores e a satisfação e retenção de clientes. Por
exemplo, uma empresa que apresente uma melhoria de 3% no bem-estar pode
ter uma subida de 1% na satisfação dos clientes. Se a
performance em bem-estar aumentar 3,5%, pode influenciar um
acréscimo de 1% na satisfação dos colaboradores e na aquisição de novos
clientes. Mas estas estratégias podem também ter impacto nos lucros das
empresas: uma melhoria de 4% em programas de bem-estar pode representar o
crescimento de 1% nos lucros e uma descida de 1% na rotatividade de
funcionários.
As empresas têm noção destas mais-valias: 82% veem no bem-estar dos seus
colaboradores uma prioridade. Mas tal não significa, necessariamente, que
estejam a trabalhar para o melhorar. Atendendo aos resultados, só 55% das
empresas a nível mundial apostam, efetivamente, nestas estratégias; já na
região EMEA este valor desce para 51%. Tal significa que há obstáculos
presentes na aplicação prática, nomeadamente a nível de investimento (51%
das empresas sentem esta dificuldade), na avaliação dos resultados destas
estratégias (44%) e até na falta de interesse por parte dos colaboradores
(42%).
A importância da saúde mental e física
Por seu lado, há elementos que afetam diretamente o bem-estar dos
colaboradores: o stress está entre os fatores que mais impactam
(apontado por 67% das organizações), bem como o burnout (46%) e a
ansiedade (37%). Entre as principais preocupações das empresas estão o
equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (65%), a saúde mental (50%), o
ambiente de trabalho (40%) e a saúde física (33%).
Segundo o nearshore Portugal: Tendências na Gestão de Talento, a
pandemia influenciou também a priorização por parte das
nearshore , pelo que, mais do que nunca, se aposta em benefícios
flexíveis (60%) e no apoio à saúde mental (50%). Entre as medidas
adotadas, destaca-se de seguida o mobiliário de escritório (33%), o apoio
à saúde física (30%) e a aquisição de tecnologia (27%). Entre os exemplos
e executar, as empresas referem as
walking meetings
(63%), as deslocações para o trabalho a pé ou de bicicleta (53%) e o
incentivo a deixar de fumar (50%).
Além disso, e até pela influência inevitável do período de quarentena, 54%
das empresas inquiridas considera a mudança para um modelo de trabalho
híbrido. Regressando ao Global Wellbeing Survey, e numa perspetiva mais
global, 50% dos colaboradores preferem trabalhar remotamente tanto quanto
possível.
Custos das empresas com seguros deve aumentar em 2022
Tendo em conta a importância da saúde dos colaboradores em geral, e dos
seguros de saúde em particular, é pertinente antecipar eventuais impactos
no orçamento das empresas. Isto porque os seguros têm um papel também no
bem-estar dos funcionários, assim como na atração e retenção de talento.
O 2022 Global Medical Trend Rates Report aponta alguns dados mais
concretos no que diz respeito ao território nacional, nomeadamente em
comparação com o contexto global e europeu. A informação tem em
consideração a percentagem de aumento em planos médicos que se antecipa
ser necessário para responder à inflação de preços projetada, aos avanços
tecnológicos na área médica, ao padrão de utilização dos seguros e à
comparticipação.
Em termos globais, comparando 2020 e 2021, a taxa anual de inflação passa
de 2,2 para 2,4, enquanto na Europa há também um crescimento de 1,6 para
1,8; já os custos das empresas com planos de saúde devem aumentar,
respetivamente, 7,2% (7,4% em 2020) e 5,6% (5,5% em 2020), sem incluir o
efeito da inflação. Em Portugal, para uma inflação prevista de 1,2% (1,4%
em 2020), estima-se uma subida de 4% nos custos (tinha sido de 3% em
2020).