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Risco político, terrorismo e violência: 4 alertas para as empresas europeias

O panorama do risco está a mudar e novas ameaças condicionam a estabilidade e os investimentos das empresas europeias. No Velho Continente, o crescente populismo e terrorismo de extrema-direita não-alinhado com determinados grupos tornam o ambiente de segurança mais complexo – e requerem cuidados extra das empresas na proteção dos seus ativos na Europa. No investimento global, é preciso ter ainda em conta a guerra comercial Estados Unidos/China e o risco político na África Subsaariana.

Conhecer o risco para poder responder com maior eficácia às vulnerabilidades identificadas. Esta é a base da gestão de risco que as empresas precisam de fazer, diariamente, para proteger os seus ativos, colaboradores e investimentos à escala internacional. Nesse sentido, é crucial identificar padrões emergentes e vulnerabilidades resultantes da conjuntura geopolítica que marca as regiões onde as organizações estão presentes (ou nas quais têm estratégias de investimento em marcha).

A partir dos Mapas de Risco Político e de Terrorismo e Violência Política 2019 da Aon, elaborados em conjunto com o Continuum Economics e The Risk Advisory Group, é possível avaliar o ambiente de segurança atual e sinalizar a exposição ao risco das organizações. O mundo é hoje um complexo puzzle de risco político, terrorismo e de violência, ao qual as empresas devem estar atentas.

Fique a par dos principais sinais de risco político, terrorismo e violência identificados nos mapas 2019 com impacto nas empresas europeias:

1. O aumento do populismo na Europa, com possíveis riscos ao nível da inflação, carga fiscal, intervenção estatal e tensão social.

Os movimentos populistas têm ganho força crescente no continente europeu. Atualmente, 11 países da Europa têm um governo composto por partidos populistas e estas organizações políticas atraem, em média, 22% dos votos em 33 países europeus. O populismo deixou de ser visto meramente como um movimento residual e marca hoje uma tendência flagrante no clima político europeu e não só (exemplos como o Brexit, no Reino Unido, e as vitórias eleitorais de Donald Trump nos Estados Unidos, Andres Manuel Lopez Obrador no México e Jair Bolsonaro no Brasil são alguns exemplos reais da vaga de populismo).

O maior desafio para as empresas resulta, no entanto, da genética complexa deste tipo de movimentos: combinam visões tradicionalmente de direita no espetro político (como a anti-imigração) com características usualmente ligadas à esquerda (forte política fiscal e a oposição ao comércio livre). À medida que o populismo continua a crescer, estes são algumas das possíveis consequências que podem afetar o tecido empresarial:

  • Risco de políticas disruptivas e instabilidade governamental (criada por coligações de muitos partidos e a ascensão ao poder de movimentos antissistema), com efeitos negativos nas perspetivas económicas;
  • Riscos de desequilíbrios fiscais e inflação;
  • Risco de uma maior intervenção estatal no investimento privado;
  • Insatisfação geral e maior tensão social, com riscos para os ativos físicos e segurança dos colaboradores.

2. A ameaça crescente do terrorismo de extrema-direita na Europa

Os ataques terroristas do Estado Islâmico têm diminuído no Mundo Ocidental. No entanto, o mapa do risco de terrorismo está cada vez mais complexo, à medida que ações violentas de extrema-direita se tornam mais frequentes, ameaçando a segurança das pessoas e organizações. O Mapa de Terrorismo e Violência Política da Aon demonstra que:

  • Planos e ataques terroristas de extrema-direita na Europa e América do Norte quase duplicaram de 2016 para 2018 (de 14 ocorrências em 2016 para 27 em 2018);
  • Na Europa, Alemanha e Grécia registaram o maior aumento de planos e ataques de índole extrema-direita;
  • O grau de eficácia destes ataques terroristas de extrema-direita é elevado. 70% das ações planeadas, em 2018, na Europa e América do Norte foram concretizadas sem que as autoridades policiais conseguissem intervir;
  • Os ataques terroristas do Estado Islâmico têm diminuído de frequência no Ocidente: 11 ataques em 2018, comparando com 26 em 2017 (no total da Europa, América do Norte e Austrália). O grupo terrorista tem recentrado atenções em países mais vulneráveis, como o Afeganistão, a Nigéria e as Filipinas.

O perfil das ações de terrorismo de extrema-direita é particularmente desafiante para a gestão do risco das organizações. Uma vez que são ações descentralizadas, muitas vezes não-alinhadas com grupos organizados e classificadas como ataques de ódio, torna-se difícil assegurar cobertura dos ativos empresariais contra estes ataques. Para certas empresas, poderá ser necessário avaliar a necessidade de coberturas específicas contra terrorismo que incluam este tipo de ações.

A nível mundial, importa destacar a vulnerabilidade das empresas face ao terrorismo: 16% dos ataques terroristas visaram ou afetaram diretamente atividades empresariais. O risco de terrorismo e sabotagem afeta 40% dos países, enquanto 60% está exposto ao risco de agitação civil.

Em destaque: Espanha atravessa momento positivo

Entre o crescente populismo e risco de terrorismo na Europa, Espanha tem conseguido conter alguns dos riscos inerentes, o que reforça uma conjuntura favorável da Península Ibérica (o perfil de Portugal não se encontra detalhado nos Mapas). Espanha foi um dos países europeus a registar melhorias no risco de terrorismo (de “médio” para “baixo”) e permanece como uma bolha positiva. Em termos de risco político, o Mapa 2019 da Aon mostra que “o desempenho económico relativamente forte da Espanha nos últimos quatro a cinco anos ajudou a conter o crescimento do populismo espanhol”. Resta saber, no entanto, se o atual abrandamento económico do país vai gerar ondas crescentes populistas, como acontece em outros pontos da Europa.

3. Em ano de eleições, a incerteza política em África poderá afetar os investimentos na região

Em 2018, as transições no poder político ocorridas no continente africano decorreram de forma pacífica. No entanto, as mais de 20 eleições previstas para 2019 (incluindo nas duas principais economias africanas, África do Sul e Nigéria) têm impacto no risco político do continente. Estes processos eleitorais podem trazer uma mudança política positiva ou alimentar maior instabilidade – uma incerteza que poderá afetar os investimentos das empresas europeias em África.

A incerteza eleitoral junta-se aos riscos de terrorismo e violência política. Mais de dois terços dos países da África Subsaariana estão em risco de agitação civil e 25% estão sob risco de sabotagem e ataques terroristas. A região continua, por isso, muito volátil ao nível político e de violência.

4. As tensões comerciais Estados Unidos/China podem gerar consequências alargadas

A rivalidade comercial entre Estados Unidos e China é um dos grandes temas identificados no Mapa de Risco Político da Aon. No pior cenário, a escalada de tarifas comerciais poderá afetar negativamente as  duas potências e respetivas empresas (embora o prejuízo seja tendencialmente pior para a China).

Qual a relação destas tensões comerciais com as empresas europeias? As organizações deverão estar atentas a este risco e avaliar, em concordância, os investimentos pensados para Estados Unidos e China. As consequências poderão fazer-se sentir também de forma indireta, com interrupções e perturbações ao longo da cadeia de valor.

As tensões entre Estados Unidos e China são uma das faces visíveis do protecionismo e incerteza nas relações comerciais, um dos principais fatores de risco para as empresas, em todo o mundo. O populismo crescente, ao gerar maior protecionismo, contribui também para agravar este risco.

Em conclusão: como proteger os ativos empresariais face ao risco político?

Os Mapas de Risco 2019 da Aon demonstram o desafio complexo que as empresas têm pela frente de forma a ganhar resiliência e assegurar os seus ativos face às diversas fontes de risco político e de terrorismo. Perante a combinação dos riscos tradicionais e novas vulnerabilidades, também as soluções em gestão de risco têm evoluído para dar uma resposta mais robusta à segurança das organizações. Uma análise atenta destes Mapas de Risco permite que as empresas europeias, incluindo as portuguesas, possam alinhar devidamente os seguros dos seus ativos com a exposição a estes riscos.

Em territórios de risco político elevado, é importante que as empresas escolham seguros que cubram cancelamentos de contratos ou limitações ao investimento causadas por mudanças governamentais. No caso do risco de terrorismo, é fundamental olhar para coberturas alargadas que incluam atos “maliciosos”, sobretudo perante ações isoladas de violência de extrema-direita que podem não ser classificadas como terrorismo – e, por isso, recaem fora do espetro de cobertura de uma solução tradicional de seguros.

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