RISCO
Alterações climáticas: Porque devem estar nas prioridades das empresas?
As perdas económicas resultantes dos desastres naturais ocorridos em todo o mundo voltaram a crescer em 2020, tendo atingido 268 mil milhões de dólares (cerca de 220 mil milhões de euros), de acordo com o Weather, Climate & Catastrophe Insight: 2020 Annual Report, desenvolvido pela Aon.
O aumento de 21 mil milhões de dólares (perto de 17 mil milhões de euros) de prejuízos em relação ao ano anterior vem evidenciar os riscos associados às alterações climáticas, situação que está a “causar uma importante reorganização das prioridades nos negócios”, enfatiza Greg Case, CEO da Aon.
Perante a probabilidade de os fenómenos extremos ocorrerem com maior frequência e, consequentemente, do impacto humanitário e financeiro continuar a agravar-se, as organizações que vão liderar no futuro serão as que demonstrarem capacidade para gerir as implicações causadas por estes eventos.
Neste cenário, e segundo recomenda o relatório da Aon, tanto as empresas como os negócios deverão definir estratégias de resiliência e de mitigação de tamanhos imprevistos, instrumentos que os ajudarão a navegar por novas formas de volatilidade, incluindo o acesso ao capital e a proteção das pessoas e dos seus bens.
Num mundo altamente inconstante, como veio demonstrar a pandemia por Covid-19, o risco está cada vez mais presente, mais conectado e com maiores proporções. Esta é uma evidência comprovada no último ano e que enfatiza a necessidade de haver uma maior colaboração entre os setores público e privado, “cenário essencial para reduzir as falhas de proteção e construir maior resiliência contra catástrofes naturais”, acrescenta Greg Case.
416 episódios de catástrofes naturais
Mas de que fenómenos naturais estamos a falar e que impacto económico produzem? Só no último ano, registaram-se 416 episódios de catástrofes naturais a nível global, tendo o maior ocorrido na China, entre os meses de junho e setembro. As inundações sazonais acumularam um total de 35 mil milhões de dólares de prejuízos (perto de 28 mil milhões de euros), o que superou as perdas de 18,2 mil milhões de dólares (cerca de 14 mil milhões de euros) provocadas pelo furacão Laura nos Estados Unidos e nas Caraíbas. Na lista dos eventos com maior impacto consta ainda o ciclone Amphan, no sul da Ásia, que acumulou perdas de 15 mil milhões de dólares (cerca de 12 mil milhões de euros).
Na Europa, a tempestade Ciara, em fevereiro, foi o fenómeno com maior repercussão, tendo provocado 2 mil milhões de dólares (perto de 1,6 mil milhões de euros) de prejuízos.
O papel dos seguros num mundo em mudança
Do total dos 268 mil milhões de dólares de perdas, cerca de 36% (97 mil milhões de dólares) estavam garantidos pelo setor segurador privado ou por programas de seguro comparticipados pelos governos (perto de 79 mil milhões de euros), o que contabiliza uma diferença de 64% de perdas não cobertas pelas apólices de seguros, a quarta percentagem mais baixa de sempre.
Tal ausência de cobertura evidencia que ainda há muito trabalho a fazer na perceção do risco e da sua antecipação, um imperativo de gestão que, como se vê, já não é opcional. É indispensável.
As consequências das alterações climáticas para Portugal
Portugal não foi exceção relativamente à ocorrência de alguns acontecimentos climatéricos com forte impacto económico local, de que é exemplo a tempestade Bárbara, que originou um prejuízo de mais de 70 milhões de dólares (cerca de 57 milhões de euros) para Portugal, Espanha e França. Também a chuva forte ocorrida no dia 25 de dezembro de 2020 na Madeira teve graves consequências, totalizando perdas acima dos 36 milhões de dólares (cerca de 29 milhões de euros).
O ano de 2020 foi, assim, como destaca Anabela Araújo, Chief Broking Officer e Claims Director da Aon Portugal, “mais uma prova das consequências das alterações climáticas e do impacto que os diferentes fenómenos naturais têm nos prejuízos económicos que, na maioria dos casos, não estão totalmente cobertos pelas apólices de seguro”.
E, ainda que o setor segurador esteja mais robusto e preparado para responder a cenários imprevisíveis, continua a ser necessário reconhecer a crescente recorrência deste tipo de catástrofes. É, por isso, necessário “refletir sobre um maior acesso a produtos mais completos, e, ao mesmo tempo, sobre a importância de desenvolver soluções que permitam garantir áreas até agora não incluídas em programas de seguro”, conclui.