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Risco

Como a COVID-19 está a mudar a economia de partilha

No início do ano poucos ousariam indicar uma pandemia como o maior risco para a economia global, mas o que é facto é que a COVID-19 veio destabilizar quase todos os setores empresariais. Uma das áreas a viver uma maior convulsão é a da economia de partilha, a chamada gig economy, umbilicalmente à transformação digital.

Durante o pico infecioso e respetivo confinamento, uma grande fatia da população viu-se obrigada a ficar em casa, reduzindo significativamente a procura de serviços de partilha, como plataformas de boleias, aluguer de veículos ou reservas de restaurantes e alojamentos.

As empresas da economia de partilha viveram (e ainda vivem) tempos conturbados, tendo de concentrar-se em manter o seu negócio, quando muitas delas, ao longo dos anos apostaram no aumento do volume de vendas em detrimento do lucro, expondo-se sobremaneira a períodos de crise. São paradigmáticos os casos das empresas de TVDE (transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica), que nos últimos anos entraram de forma agressiva em muitos mercados, oferecendo preços baixos para terem um crescimento exponencial, mas relegando a rentabilidade para segundo plano.

Também os trabalhadores da gig economy têm sido afetados pela crise resultante da pandemia. Muitos deles tiveram mesmo de fazer uma escolha difícil: irem trabalhar, arriscando adoecer e a contaminar outras pessoas; ou protegerem-se da doença mas perderem a sua fonte de rendimento.

A somar a isso, uma grande fatia são trabalhadores precários, pelo que estão menos protegidos por medidas de apoio governamentais, o que tem gerado um clima de incerteza e levado a um aumento do desemprego e dos pedidos de ajuda.

Apesar do cenário geral de instabilidade, a economia de partilha tem motivos para encarar o futuro com alguma esperança.

DEPOIS DA TEMPESTADE, A BONANÇA?

Se, por um lado, a procura de muitos serviços diminuiu, por outro vários negócios da economia de partilha assistiram a um aumento da procura. O receio generalizado da exposição ao vírus tem levado mais pessoas a usar serviços digitais, com destaque para as entregas (compras, comida, encomendas, etc.). Muitas destas empresas digitais adaptaram-se rapidamente à nova realidade e passaram a fazer entregas que não faziam, nomeadamente de produtos ou serviços ligados à saúde.

Assim, um dos pontos fracos da economia de partilha, a volatilidade, está a ser contrabalançado pela sua grande vantagem: a adaptabilidade. À medida que as economias se forem restabelecendo, as empresas de partilha poderão beneficiar grandemente da sua capacidade de adaptação, vantagem que outras indústrias não terão.

Esta pode ser uma oportunidade para obrigar as empresas a repensar o seu modelo de negócio, de modo a focarem-se mais na rentabilidade do que no crescimento “cego” do volume de vendas, tornando-as mais sólidas e preparadas para lidar com futuras crises. Esta mudança já está, aliás, a acontecer. Algumas organizações já estão a desistir de investir em mercados não-lucrativos e a abandonar a sua estratégia de crescimento a todo o custo.

Graças a esta mudança de paradigma, também os trabalhadores podem sair beneficiados, uma vez que muitas empresas acabarão por repensar os seus moldes de contratação, providenciando uma maior segurança laboral aos trabalhadores.

A RESPOSTA À CRISE VAI DEFINIR O FUTURO

A crise gerada pela COVID-19 é de uma tipologia totalmente nova, para a qual a maioria das empresas da gig economynão estava preparada, até porque os planos de recuperação pensados para crises geradas por outro tipo de desastres, como catástrofes naturais, não se aplicam ao contexto atual.

Sendo esta pandemia inédita, não existe um manual por onde as empresas se possam orientar, mas muitas já se estão a adaptar e a minimizar a crise com uma estratégia assente na inovação, resiliência e adaptabilidade.

A forma como os negócios respondem aos desafios será determinante na definição dos novos moldes da futura economia de partilha. Apesar da crise, há espaço para a esperança, e as empresas, se se adaptarem e souberem fazer uma boa avaliação e gestão de risco, poderão sair da crise mais sólidas e com maior capacidade de investimento.